sábado, 4 de julho de 2009


Quando criança corria nua pela quinta da minha infancia. Corria nua pelas oliveiras, trepava às arvores de laranjeiras e figueiras... era eu e a natureza, numa forma pura. Mais velha, passeava de vestido branco, simples, que esvoassava ao vento descobrindo as minhas pernas. Sentava me na arvore derrubada pela tempestada, deitava me no seu ramo largo e olhava o rebanho, inocente, com uma felicidade irracional. Os recem nascidos seguiam as suas maes, aventurando-se um pouco mais longe, de lã virgem e branca como neve.

Descia da arvore e deitava-me na erva. Observava os insectos, as formigas que me ignoravam, apressadas, atarefadas, carregadas com pedaços não sei bem de quê. Virava-me. As nuvens. O céu azul, tão azul, tão simples e belo. Seguia então para o muro, andando por cima dele, tal trapezista, e o meu vestido voava ao vento. O cheiro do estábulo, da palha que o meu tio atira para os comedouros, cheiro familiar que não reconheço.


Hoje vagueio pela quinta... morta... sem vida... não existem rebanhos e recém nascidos. as laranjeiras e figueiros secaram. A palha apodreceu com as chuvas. Só me resta o meu ramo da árvore onde me deito. o céu está nublado. Cai a chuva, escorre-me pelo cabelo, desliza-me pelo peito até ao meu regaço. Mistura-se ela com as minhas lágrimas, e não sei mais quem chora.


A quinta morreu. Tingi o meu vestido branco, agora negro, e despeço-me, solene, já sem lágrimas para cairem pela minha face. Não existe mais sorriso. Não existe mais choro.



O que resta então?

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